Mas hoje vou fugir disso. Não porque quero fazer diferente, pois isso me levaria ao lugar comum novamente, mas porque preciso. Minha mente está cheia, e vou, pelo menos hoje, apenas falar.
Sabe, (não sei se isso acontece com pessoas normais, mas acho que deve acontecer, pelo menos, acontece com todas que eu possa saber, ou seja, eu mesmo) às vezes me dá vontade de viajar.
No sentido literal mesmo. Pegar um carro e "hit the road" (ou "pegar uma estrada", numa tradução pouco precisa) sem rumo.
Não que eu seja um desses caras que acha que a melhor saída para os seus problemas é fugir deles, literalmente. Não. O caso é mais difícil, acho que nem eu sei direito.
Sei lá. Sumir uns tempos pra saber se eu faço diferença sabe?
Sei que soa meio egoísta, mas é assim que sinto, e não posso negar esse sentimento.
Sumir e esperar um tempo... Só para depois poder ouvir alguém dizer: "Poxa, você sumiu hein?" e eu, cinicamente, reponder: "É... estive por ai. Precisava esfriar a cabeça... Relaxar um pouco. E as coisas, como vão?" esperando ouvir algo como, "...é tivemos uns probleminhas aqui e ali, ..., mas ainda bem que você chegou!".
É... Agora que pûs no papel (no computador ou na internet, que seja! É uma figura de linguagem!) é que percebo quão egoísta sou.
Sou mesmo, e não digo com orgulho, mas com o mesmo pesar que um pai tem ao perceber que, mesmo sem ele ou sua mulher ter alguma descendência albina, o garoto têm lindos olhos azuis.
Mas, se vocês não sabem, tudo o que eu faço é para vocês!
Faculdade, Trabalho, Boxe e natação... tudo é por vocês!
Não que eu não me sinta bem em cada um deles. Me sinto ótimo na verdade. Mas o motor inicial é a sociedade em si.
Se bem que sociedade é muito amplo, e eu tô pouco me lixando pra ela.
Faço isso tudo pela minha família e pelos meus amigos. Pelas pessoas com quem eu cruzo na rua e que ficam pensando no que eu estou sempre pensando.
Mas, e é aí que as coisas pioram...
E se ninguém notar?
E se ninguém ver que minha nota em álgebra foi tão boa quanto à do primeiro da turma?
E se ninguém notar que estou dormindo melhor devido aos exercícios físicos?
E se ninguém der a mínima pro que eu faço ou deixo de fazer nas sextas à tarde?
É em vão? É vaidade? Egocentrismo puro!?
E nesses momentos que fico com um medo enorme.
Não sei a resposta pra isso e tenho a clara certeza de que nunca vou saber.
Aí eu penso: "Que vontade de sumir daqui. Zupt! Bum! Not here anymore. Começar tudo de novo num lugar onde ninguém me conhece e eu tenha todo mundo para conhecer... Quem sabe lá eu não possa bancar uma de estudante vagabundo que joga bola pra caramba? Ou ainda do playboy folgado que pega todas as meninas?
Ou mais vago ainda! Do cara que sempre concorda com tudo e que está em todas, mas ninguém sabe direito quem é ou onde mora. Como saberão do meu passado obscuro? Ninguém liga mesmo, ninguém se importa!"
[...]
Às vezes sou descrente do mundo. Acho que não têm solução mesmo. Tá tudo uma merda. É mais fácil começar de novo do que consertar... Bum!!!!!! Bomba H resolve o problema.
Mas, pô, percebeu que voltei ao mesmo problema? É a mesma coisa.
Deixar tudo pra trás e tacar uma bomba no mundo é a mesma coisa pro que venho me convencendo de que devo fazer.
Mas é óbvio de que esta não é a melhor alternativa.
Enfretar os problemas mesmo que isso lhe sugue todas as suas energias.
Seja herói pelo menos em sua morte, covarde.
Qual será o pensamento de um piloto kamikaze que acaba de desistir de atacar o inimigo!?
Se eu fugir, não me sentirei muito melhor do que isso.
[...]
Mas, Ah... a idéia de viajar é sempre tão tentadora...
Sumir, ir a lugares nunca vistos por pessoas do meu mundo...
Fazer um novo papel, ser um novo personagem, viver outra vida.
E então descançar.
Esquecer dos problemas humanos.
Esqueçar da fome e da miséria da África.
Esquecer dos meu problemas estudantis, familiares e afetivos.
Esquecer.
Boiar na leve brisa que percorre o rosto dos aflitos e dos calmos.
Não pensar nos problemas do passado, presente e futuro.
Simplesmente poder parar e realmente me concentrar em não ficar concentrado em nada.
E então, como que acordado por um rádio-relógio emocional de barulho extremamente irritante, voltar ao mundo real.
Nós não podemos nos dar ao luxo de sonhar com um mundo perfeito uma vez que nós não somos perfeitos. Nós, todos nós, temos problemas. E o mínimo que podemos fazer é enfrentá-los. Dia-dia, sendo heróis em cada esquina.
Lembro-me de uma poesia que uma vez ouvi, ou vi, ou li.
Não sei aonde. Não sei como. Não sei por quê.
Não tenho a precisão de suas palavras. Tudo o que me resta é o sentimento que ela despertou em mim, e que tentarei traduzir em palavras novamente.
"O mundo não tem lugar para covardes...
Todos temos que estar dispostos a viver, lutar e morrer.
E teu esforço não é menor, por que nenhum tambor rufa ao sair às suas lutas diárias.
E nenhuma multidão o aclamao ao chegar, vitorioso ou derrotado, de seus campos de batalhas diários"
E é isso que me consola.
Sabe, eu tenho problemas, e luto contra eles, como qualquer pessoa do mundo real.