25 março, 2006

Desabafo

Após esse bom tempo que venho escrevendo aqui, acho que adquiri um certo padrão. Sabe, um texto com uma ponta de humor e outra de sarcasmo. Algo que procure ser diferente do que há por aí.

Mas hoje vou fugir disso. Não porque quero fazer diferente, pois isso me levaria ao lugar comum novamente, mas porque preciso. Minha mente está cheia, e vou, pelo menos hoje, apenas falar.




Sabe, (não sei se isso acontece com pessoas normais, mas acho que deve acontecer, pelo menos, acontece com todas que eu possa saber, ou seja, eu mesmo) às vezes me dá vontade de viajar.
No sentido literal mesmo. Pegar um carro e "hit the road" (ou "pegar uma estrada", numa tradução pouco precisa) sem rumo.
Não que eu seja um desses caras que acha que a melhor saída para os seus problemas é fugir deles, literalmente. Não. O caso é mais difícil, acho que nem eu sei direito.


Sei lá. Sumir uns tempos pra saber se eu faço diferença sabe?
Sei que soa meio egoísta, mas é assim que sinto, e não posso negar esse sentimento.
Sumir e esperar um tempo... Só para depois poder ouvir alguém dizer: "Poxa, você sumiu hein?" e eu, cinicamente, reponder: "É... estive por ai. Precisava esfriar a cabeça... Relaxar um pouco. E as coisas, como vão?" esperando ouvir algo como, "...é tivemos uns probleminhas aqui e ali, ..., mas ainda bem que você chegou!".


É... Agora que pûs no papel (no computador ou na internet, que seja! É uma figura de linguagem!) é que percebo quão egoísta sou.
Sou mesmo, e não digo com orgulho, mas com o mesmo pesar que um pai tem ao perceber que, mesmo sem ele ou sua mulher ter alguma descendência albina, o garoto têm lindos olhos azuis.


Mas, se vocês não sabem, tudo o que eu faço é para vocês!
Faculdade, Trabalho, Boxe e natação... tudo é por vocês!
Não que eu não me sinta bem em cada um deles. Me sinto ótimo na verdade. Mas o motor inicial é a sociedade em si.
Se bem que sociedade é muito amplo, e eu tô pouco me lixando pra ela.
Faço isso tudo pela minha família e pelos meus amigos. Pelas pessoas com quem eu cruzo na rua e que ficam pensando no que eu estou sempre pensando.


Mas, e é aí que as coisas pioram...
E se ninguém notar?
E se ninguém ver que minha nota em álgebra foi tão boa quanto à do primeiro da turma?
E se ninguém notar que estou dormindo melhor devido aos exercícios físicos?
E se ninguém der a mínima pro que eu faço ou deixo de fazer nas sextas à tarde?


É em vão? É vaidade? Egocentrismo puro!?


E nesses momentos que fico com um medo enorme.
Não sei a resposta pra isso e tenho a clara certeza de que nunca vou saber.


Aí eu penso: "Que vontade de sumir daqui. Zupt! Bum! Not here anymore. Começar tudo de novo num lugar onde ninguém me conhece e eu tenha todo mundo para conhecer... Quem sabe lá eu não possa bancar uma de estudante vagabundo que joga bola pra caramba? Ou ainda do playboy folgado que pega todas as meninas?
Ou mais vago ainda! Do cara que sempre concorda com tudo e que está em todas, mas ninguém sabe direito quem é ou onde mora. Como saberão do meu passado obscuro? Ninguém liga mesmo, ninguém se importa!"



[...]


Às vezes sou descrente do mundo. Acho que não têm solução mesmo. Tá tudo uma merda. É mais fácil começar de novo do que consertar... Bum!!!!!! Bomba H resolve o problema.
Mas, pô, percebeu que voltei ao mesmo problema? É a mesma coisa.
Deixar tudo pra trás e tacar uma bomba no mundo é a mesma coisa pro que venho me convencendo de que devo fazer.


Mas é óbvio de que esta não é a melhor alternativa.

Enfretar os problemas mesmo que isso lhe sugue todas as suas energias.
Seja herói pelo menos em sua morte, covarde.
Qual será o pensamento de um piloto kamikaze que acaba de desistir de atacar o inimigo!?
Se eu fugir, não me sentirei muito melhor do que isso.


[...]


Mas, Ah... a idéia de viajar é sempre tão tentadora...
Sumir, ir a lugares nunca vistos por pessoas do meu mundo...
Fazer um novo papel, ser um novo personagem, viver outra vida.


E então descançar.
Esquecer dos problemas humanos.
Esqueçar da fome e da miséria da África.
Esquecer dos meu problemas estudantis, familiares e afetivos.

Esquecer.
Boiar na leve brisa que percorre o rosto dos aflitos e dos calmos.
Não pensar nos problemas do passado, presente e futuro.
Simplesmente poder parar e realmente me concentrar em não ficar concentrado em nada.


E então, como que acordado por um rádio-relógio emocional de barulho extremamente irritante, voltar ao mundo real.

Nós não podemos nos dar ao luxo de sonhar com um mundo perfeito uma vez que nós não somos perfeitos. Nós, todos nós, temos problemas. E o mínimo que podemos fazer é enfrentá-los. Dia-dia, sendo heróis em cada esquina.


Lembro-me de uma poesia que uma vez ouvi, ou vi, ou li.
Não sei aonde. Não sei como. Não sei por quê.
Não tenho a precisão de suas palavras. Tudo o que me resta é o sentimento que ela despertou em mim, e que tentarei traduzir em palavras novamente.



"O mundo não tem lugar para covardes...
Todos temos que estar dispostos a viver, lutar e morrer.
E teu esforço não é menor, por que nenhum tambor rufa ao sair às suas lutas diárias.
E nenhuma multidão o aclamao ao chegar, vitorioso ou derrotado, de seus campos de batalhas diários"


E é isso que me consola.
Sabe, eu tenho problemas, e luto contra eles, como qualquer pessoa do mundo real.

10 março, 2006

Boxe

Fiz Boxe ante-ontem... Putzgrila, que regasso. Tô quebrado até agora. Mas, sem mais delongas, vamos à narrativa.


Quarta-Feira, 8 de Março de 2006.

Era meia noite, o sol brilhava no horizonte. Eu e Lídio entramos no carro de Taioba, colega do Lídio, para aquele que será o primeiro dia do resto de suas vidas... ou seria o último dia do resto de suas mortes??? Ou ainda o primeiro a morrer no resto da vida? Whatever.

7 e poucas da noite, o carro chega ao estacionamento do Mineirinho, cenário do incidente. Os três (patetas) ainda não sabem do perigo que está por vir.

Pouco depois de 7 e poucas da noite, eles encontram o local. Um velho que parece ter saído do filme "Rock, o lutador" de nome Pedro, vulgo Pedrinho, os recepciona. Após um breve bate-papo, eles já estão trocando de roupa para o treino.

Pouco depois de pouco depois de 7 e poucas da noite, o Pedrinho dá a ordem para começar o que eles julgavam ser o aquecimento. 5 voltas em torno do mineirinho.
Muito suor depois, eles chegam e são recepcionados com a nova ordem de pular corda. Mais 30 minutos.
Eles acharam esse aquecimento pesado... Mal sabiam eles que isso era apenas o pré-aquecimento.

Pouco depois de 7 e poucas da noite ao cubo, chega um negão que mais parece um armário com quatro anões pindurados em suas extremidades e uma abóbora de Halloween em cima.
Não que a cara dele fosse laranja, ou tivesse dentes pontiagudos formando triângulos subjacentes.
A semelhança com a abóbora de Halloween é que a cabeça dele era, assim como todo o resto, assustadora.

Mas não ache que fiquei parado olhando para ele para ter uma idéia do que escreveria no meu blog.
É que quando você está extremamente perto da morte, sua vida passa toda na sua frente, em questão de segundos.
Considerando o tamanho do negão, pelo menos os últimos 20 minutos ficaram passando constantemente na minha frente.

Enquanto isso, estávamos fazendo o aquecimento.
Primeiro ficamos dando Jab's no ar. 10 minutos. Tive a sensação de que as fibras do meu ombro estavam se desfiando.
Depois, passamos para aeróbica. 200 polichinelos e mais 200 de um outro exercício tosco e extremamente cansativo.
Até então, o negão nada fazia, além de passar Gelol no corpo inteiro.
A academia inteira já estava fedendo Gelol.

Finalmente ele se apresenta para o aquecimento. Começamos com um alongamento. Encostar o dedo no chão com a perna esticada e olhando pra frente. É humanamente impossível, mas contra 120 kg de músculo fica difícil argumentar.

Depois de alongar músculos que eu não sabia que possuía, passamos para os exercícios.
Para começar, 20 flexões com a ponta do dedo, depois mais 20 com punho fechado. Depois passamos para as abdominais, mais 40. Lombar, 35 e, por fim, mais 50 abdominais.

É lógico que à cada 10 segundos o negão falava um palavrão.
"Vai p*****!", ele dizia.
"Estica essa m*****!", ele insistia.
"********************************!!!", ele gentilmente argumentava.

Depois disso passamos a abrir e fechar o punho. 30 cada série. Repetimos esse exercício, sem brincadeira, umas 12 vezes seguidas, só alterando a posição do braço.
Foi nesse ponto que eu perdi toda a sensibilidade do meu corpo.

Depois disso, ele apelou e mandou todo mundo levantar a mão e realizar uma série de 100. Aí ele saiu gritando: "Endurece esse abdômen, *****!" e dando um soco na barriga de cada um, inclusive na minha.

Fato importante: Mesmo achando que eu já tinha perdido toda a minha sensibilidade, ainda fui capaz de sentir quão forte foi o soco, resultando em duas coisas:
a) Uma terrível dor de barriga no meio da madrugada
b) A óbvia sensação de que seria melhor ter ficado em casa assistindo Sílvio Santos.

Depois disso, ele deu um berro no Pedrinho: "Pedrinho!!! Já deu o tempo, ********!?".
O sacana do Pedrinho, vira e fala: "Ainda têm 3 minutos".
O Negão olha pra gente e continua: "É agora que eu vou ******* vocês!!!!!!".

Ele pôs todo mundo pra dar mais 2 voltas no mineirinho. Correndo, nada de cooper.

Depois disso, não aguentandando mais nada, fomos liberado da aula em si. Só o aquecimento já foi suficiente para nos deixar fora de condições de amarrar o sapato. Assistimos passivamente o resto da aula e fomos embora, rindo pra caramba da nossa falta de preparo físico.

Conclusão: Muito cuidado com negões que usam gelol e com convites de amigos para ir praticar algum esporte... sabe-se lá o que mais esse negão faz...

05 março, 2006

Poema mais ou menos de amor

Tive hoje a impressão de que o hidrogênio só existe por causa dela.
É, estou quase certo disso.

Não que sua existência dependa basicamente de hidrogênio. Não; a de todos nós sim, mas não especialmente a sua.
Não e sim.

Explico-me. É que a fusão de vários átomos de hidrogênio formam o que nós chamamos de sol, que fica a uma distância aterradora de nós. Todos nós.

Isso também só existe por causa dela.
Tanto a fusão do hidrogênio quanto a distância aterradora definitivamente só existem por sua causa.

Eu sei que todos nós morreríamos congelados se o hidrogênio resolvesse não fundir, e morreríamos queimados se a distância aterradora não fosse tão aterradora assim.

Mas tem algo mais. Algo mais belo do que a extinção ou sobrevivência de um planeta inteiro.

É que os fótons de luz emitidos por essa fusão de hidrogênios aquecem o mar a água e faz milhares de outras coisas.
E ele faz todas essas coisas num ponto de perfeito equilíbrio entre o nem muito e nem pouco.

Mas é na quebra das pontes de hidrogênio que se confirma o que eu já desconfiava: É tudo por causa dela. Hidrogênio, fusão, Sol, distância aterradora, fótons e, por fim, a própria quebra das pontes de hidrogênio. Todas contribuem secretamente para algo magnífico.

A quebra das pontes de hidrogênio, que mantém a água líquida, torna-a, por conseguinte, gasosa. Então sobe. Imagine partículas de água no seu estado gasoso subindo, até que, em um ponto nem tão alto e nem tão baixo, elas resolvem parar para pensar porque estavam subindo. Elas se ajuntam em pequenos grupos e começam a debater o assunto. Nisso, aquelas nossas velhas amigas, as pontes de hidrogênio, se refazem, tornando a água novamente líquida.

Finda a discussão, ao assumir o peso de sua nova responsabilidade, as recém-formadas gotículas de agua começam a descer, ansiosas para cumprir sua tarefa.

Acho que você já sabe o que quero dizer. Ela.

Quando essas gotas caem ao entardecer e passam, ligeiras, pela janela de um pensador, a única mensagem que podem possivelmente transmitir é que ela é bela.

Quando, à noitinha, riscam a escuridão sobre a fraca luminosidade de uma lâmpada velha e desgastada, elas gritam o seu nome da mesma forma que Dom Pedro I faria, se fosse mudo.

Quando sobre esta mesma chuva, que agora parece não produzir ruído algum, ela caminha, passo a passo, num balé de curvas e contrastes, nuances e olhares tão perfeitos e majestosos que até a coisa mais perfeita que já passou por essas bandas, pararia e diria: "Poxa!", só um pensamento pode me incorrer.

Ela é linda, e parece mais linda ainda com a chuva a lhe percorrer os cabelos.
É por isso que existe o hidrogênio, os fótons, a terra e o escambal.

Só porque ela é linda. Linda.